O meu joelho dói, mas não dói. Era uma vez uma feliz e turva Noite dos Horários quando, devido a uma possível tábua mal alinhada e a uns quantos buracos recém-criados no chão visando aposentar-me, no meio de um salto, literalmente lixo o joelho. Ninguém reparou no momento em que eu me lesionei, exceptuando, penso eu, a Paulita do Bar da FEUC e o Góis Fixe, mas aguentei-me. Quiçá o maior estrago tenha sido feito depois. Não quis ir para casa; não ia perder uma Noite dos Horários por causa de um joelho e, por causa disso, passei o resto da noite toda a massacrá-lo. Ainda assim, não me arrependo. O joelho doeu-me nos primeiros dias, e hoje passado quase duas semanas ainda me dói num ou outro movimento, mas dói-me a cada momento do meu dia. Não pretendo ser melodramático ou trágico, mas sinto-me frustrado de não poder andar à vontade pela cidade, como normalmente o faço. Sinto-me frustrado de não poder sair decentemente à noite, por medo de me descuidar no joelho e provocar mais um retrocesso na recuperação. Dói-me a minha actual fraqueza física, mesmo que temporária.
Isto tudo porquê? Porque, no fundo, apesar de me doer, eu não choro por estar aleijado, não estou chateado com o mundo por não poder fazer aquilo que quero, quando quero. Porque aceito. Normalmente é algo que falta às pessoas, a aceitação.
A aceitação das consequências é das coisas mais importantes que deve estar interiorizada no carácter de uma pessoa, medir o custo-benefício do que estamos a fazer. Não é conversa de aspirante a economista, é apenas uma palavra bonita, mas objectiva, do que normalmente faço quando me meto nalguma coisa.
Vamos a exemplos:
Quando uma pessoa está a copiar e é apanhada pelo professor, qual é o motivo para ficar chateada? Não estava a fazer algo lícito e foi apanhada, por isso o que é justo é arcar com as consequências. E, na minha sincera opinião, nem envergonhada deve ficar, afinal de contas, estava a fazer pela vida, e se existe mesmo a vontade de ficar envergonhado, então essa mesma pessoa deve-se envergonhar de não ter conseguido copiar mais discretamente, afinal a verdadeira regra não é "Não se pode copiar", mas "Não se pode ser apanhado a copiar."
Mutatis Mutandis para o excesso de velocidade na estrada.
Nota: Não estou a incentivar o excesso de velocidade, nem algo de semelhante. Neste caso temos de ter em atenção ainda mais a análise, porque para além do nosso futuro podemos estar a implicar o dos outros e isso é bem mais difícil de aceitar.Passando ao meu caso, porque sim, queridos paizinhos e professores, eu não ando na estrada com excesso de velocidade (excepto quando ando a pé) nem copio, eu aleijei-me no joelho, sabiam?
Mas não culpo ninguém e aceito. Eu sabia que tinha uns joelhos de um velho - o da direita acabou de envelhecer cerca de 10 anos, passando oficialmente para a terceira idade (o da esquerda ainda está em fase de pré-reforma - mas, ainda assim quis ser pandeireta. E quero continuar a sê-lo. Peço desculpa aos restantes, mas não há nada como estar à frente de um palco a sentir os fanáticos a cantarem as nossas músicas, a sentir a vibração deles e, mais que isso, vibrar com eles. Puxar por eles, gritar com eles, cantar com eles. Penso que isto ultrapassa claramente a barreira do custo.
Aliás, mesmo com o joelho assim, a ter de andar por Coimbra com uma muleta, e a não poder voltar a estar como estava durante mais umas, espero que poucas, semanas, mesmo assim, continuo milionário.